quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

"Cérebro À Prova de Envelhecimento"








"A história das freiras de Mankato


David Snowdon, investigador e neurologista da Universidade do Kentucky, descobriu-as em 1986 e envolveu-as num estudo de dez anos para determinar as causas e prevenção da doença de Alzheimer, entre outras complicações cerebrais associadas ao envelhecimento. É que no convento da cidade de Mankato, nos Estados Unidos da América, apesar da idade média ser de 85 anos, as irmãs pareciam protegidas contra este tipo de doenças. Não bebiam, nem fumavam e mantinham-se mentalmente ativas: algumas delas ainda eram professoras.


Neste estudo promovido pelo National Institute on Aging, as freiras aceitaram doar o cérebro para investigação, após a sua morte. Entre as conclusões, revelou-se que embora algumas delas apresentassem sinais patológicos da doença de Alzheimer, poucas tinham sintomas ou desenvolviam a doença mais tarde.


Veio a comprovação científica para a expressão que circulava nos corredores de Mankato: "cérebro desocupado é morada do diabo".



1 - Siga uma dieta saudável

Ou seja, uma dieta rica em ácidos gordos ómega 3, proteínas, antioxidantes, frutas, vegetais e vitaminas do complexo B. Evite gorduras saturadas e tenha sempre, pronto a usar, "reservas" de hidratos de carbono.

Cientistas do MIT, Instituto de Tecnologia de Massachusetts, revelaram que os hidratos de carbono, ajudam a estimular a produção de serotonina no cérebro, hormônio responsável pela regulação do humor e presente em menor quantidade nas mulheres. O estudo realizado mostrou que este consumo é mais eficaz quando acompanhado de pouca ou nenhuma proteína (esta parece impedir a produção da hormona).



2 - Mantenha-se mentalmente ativo

Ler, aprender uma língua nova, ter aulas de dança ou pintura são exemplos de hobbies mentalmente estimulantes em qualquer idade e ajudam a manter-se intelectualmente desperto(a). Tudo menos ficar no sofá a ver televisão.

Manter-se mentalmente activo passa por exercitar os neurónios. E para isso, basta quebrar a rotina, defendem os autores americanos do livro "Mantenha o seu cérebro vivo", com simples alterações do dia-a-dia, como escovar os dentes com a mão a que não estão habituados a fazê-lo. Com as atividades rotineiras acabamos por utilizar apenas uma parte ínfima do nosso potencial cerebral. Por isso, ao modificar a forma como costumamos fazer uma coisa (treinando o ambidestrismo, por exemplo) vai implicar que os neurónios tenham que se adaptar a um novo cenário e isso estimula a produção de neurotrofinas – importantes no crescimento das células nervosas. Aquilo a que os autores Lawrence Katz (professor de neurologia) e Manning Rubin chamam de exercícios neuróbicos.



3 - Faça exercício regular

Indispensável para quem quer ficar em forma, tanto física como mentalmente. O exercício melhora a circulação e coordenação motora, ajuda a prevenir o risco de demência, AVC ou diabetes. Sessões de yoga contribuem para melhorar a acuidade mental. Vários estudos comprovam que as pessoas que praticam exercício regularmente apresentam um menor risco de vir a sofrer da doença de Alzheimer.

John Ratey, neuropsiquiatra americano e professor de psiquiatria da Escola Médica de Harvard, costuma dizer "que fazer exercício é como tomar um prozac no momento certo". Descreve o especialista ao site de investigação médica web med, que a actividade física é realmente para o cérebro, não para o corpo. Afeta o humor, a vitalidade, o estado de alerta e os sentimentos de bem-estar. O autor do livro que aborda os impactos dos avanços da mente sobre a qualidade de vida - "Cérebro – um guia para o usuário" - explica que depois de jogar futebol, o cérebro está mais disposto a aprender. "O exercício aeróbico e o treino são como adubo para o cérebro".


Especialistas apontam-no ainda como benéfico no combate dos sintomas de DDAH (Desordem por Défice de Atenção com Hiperactividade), que afecta a concentração e atenção nas tarefas.



4 - Saia de casa

Ter vida social é muito importante para preservar a saúde mental. Passar tempo com os amigos e a família, fazer voluntariado ou viajar são actividades que protegem da solidão e demência, sobretudo na 3ª idade.

"A fórmula da felicidade" estudada pelo psicólogo e professor da Universidade de Illinois, Ed Diener, foi transmitida o ano passado num documentário televisivo da BBC2: é mais feliz quem tem mais e melhores amigos. Mas também há estudos realizados que traduzem os índices de felicidade proporcionados pelas relações sociais, em anos de vida. De acordo com uma pesquisa realizada durante dez anos (1992-2002), pelo Centre for Ageing Studies, Flinders University, Austrália, os amigos são essenciais para a sobrevivência e podem ter um papel ainda mais importante que a própria família, de acordo com Gynn Giles, uma das investigadoras que publicou o estudo no Journal of Epidemiology and Community Health (http://jech.bmj.com). Além de beneficiar a auto-estima, a amizade pode influenciar hábitos saudáveis de vida.



5 - Durma o suficiente

Habituar-se a não dormir o suficiente ao longo da vida pode ter um impacto muito negativo a longo-prazo, provocando irritabilidade, cansaço excessivo e falta de concentração constante. Além disso, as pessoas que dormem pouco têm mais tendência a engordar.

"Para envelhecer com sucesso precisa de dormir bem"

Edward Schneider, Universidade Califórnia, Los Angeles em Campodimele, conhecida como "a aldeia da eterna juventude", no Sul de Itália, onde é natural andar de vespa aos 90 anos, as pessoas dormem uma sesta de duas horas todas as tardes e, de acordo com um estudo da Universidade de Roma, seguem os seus relógios internos, deitando-se pouco depois do crepúsculo e levantando-se ao nascer do sol: dormem em média oito horas por noite.

6 - Aprenda a lidar com o stresse

O stresse não tem de ser obrigatoriamente mau; pode até ser benéfico, se constituir um estímulo físico e mental. Em contraponto ao ritmo diário, experimente actividades antistresse como o yoga ou o tai-chi, que possam ajudar a lidar melhor com as injecções quotidianas de adrenalina.

Se por um lado, informações novas estimulam o cérebro, em excesso podem ter um efeito contrário. "A abundância de dados gera stresse, porque exige um tempo de que não dispomos para lidar com eles, e se o stresse agudo até é bom para as sinapses (ligações entre neurónios), o crónico destrói a memória de curto prazo", explica em entrevista on line (A Folha), a neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, formada pelo Instituto Max-Planck de Pesquisa do Cérebro em Frankfurt, na Alemanha, e autora do "Cérebro em Transformação".



7 - Cuidado com os traumatismos

As lesões no cérebro estão directamente associadas ao risco de demência, daí a importância de simples medidas como usar capacete e cinto, quando andar de bicicleta e carro respectivamente. Atenção redobrada nas crianças.


Quem é que manda aqui? Nas emoções de fome, apetite, alegria ou tristeza.


É o cérebro que regula estas funções e interpreta os sinais emitidos pelo organismo e pelo exterior. Os danos cerebrais podem prejudicar a sensibilidade/resposta do cérebro a determinados estímulos.


Dois Hemisférios

O cérebro é composto por dois hemisférios (responsáveis pela inteligência e raciocínio): ao esquerdo corresponde o pensamento lógico; ao direito o pensamento simbólico e a criatividade.

Sabia que… O hemisfério esquerdo controla o lado direito do corpo e vice-versa.


8 - Controle a sua saúde

Manter o peso adequado, fazer exercício, seguir uma dieta equilibrada ou controlar o stresse, são indicações gerais que reduzem o risco de doenças que afectam o cérebro, como a diabetes, as doenças cardiovasculares e hipertensão.

Sabia que o cérebro também come? Foi o tema e a conclusão principal do Simpósio realizado no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, no passado mês de Janeiro. A iniciativa mostrou como o desenvolvimento cognitivo nas crianças é tão importante como o seu desenvolvimento físico e "aprovou" um conjunto de nutrientes essenciais para pôr o cérebro a funcionar. A nutricionista Helena Cid apresentou o menu:



DHA: ácido gordo que se encontra naturalmente no leite materno e no peixe gordo (como a sardinha e salmão) e é tão importante para o cérebro das crianças como o cálcio para os ossos. Colabora no crescimento e desenvolvimento dos neurónios: as ligações cerebrais precisam de ser constantemente reparadas com ácidos gordos.


Doses: 200mg (0,2g) de EPA+DHA através do peixe; 150 a 200mg para crianças a partir dos 6 meses até adolescentes com 18 anos.



ALA: ácido gordo essencial da família dos ómega 3 importante para o desenvolvimento. Ao contrário do DHA e do EPA, o nosso organismo não consegue sintetizá-lo.


Por isso, recomenda a nutricionista, para alimentar o cérebro com ALA, temos de introduzir frutos secos nas refeições e temperar a comida com óleos vegetais.



Vitaminas Complexo B: estão presentes na gema de ovo, leguminosas, carne e hortaliças verdes. Ajuda na formação de dois neurotransmissores do cérebro e na consequente comunicação entre neurónios. Como o desenvolvimento das ligações cerebrais acontece nos dois primeiros anos de vida, salienta Helena Cid, estas preocupações devem vigorar ainda na gravidez.



9 - Evite hábitos pouco saudáveis

Anote: fumar, consumir drogas, álcool e gorduras (saturadas/trans) em excesso aumenta significativamente o risco de doenças degenerativas do cérebro.

É possível associar o alcoolismo a danos físicos no cérebro, de acordo com um alerta do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (EUA). As maiores lesões observadas parecem estar localizadas no córtex do lobo frontal, relacionado com as funções intelectuais. E têm tendência a aumentar com a idade, pelo menos nos homens. Mas estas lesões têm também sido observadas em regiões mais profundas do cérebro, como o cerebelo que ajuda a regular a coordenação e o equilíbrio. Estes estudos têm contribuindo assim para estabelecer relações entre álcool e comportamento: é provável que se acentue o desequilíbrio em alcoólicos de idade avançada. Mas tão ou mais importante, é que também têm somado pontos na recuperação. Investigadores do Center for Alcohol Studies, Universidade do norte da Carolina, sugerem (http://alcoholism.about.com, 2006) que as terapias que exercitam as partes do cérebro danificadas por elevado consumo de álcool, juntamente com suplementos de tiamina, podem promover o crescimento do cérebro (sabe-se que o tamanho do cérebro dos alcoólicos diminuiu) assim como ajudar a recuperar da adição. Os cientistas acrescentam que talvez aquilo que determina o alcoolismo está relacionado com a sensibilidade do cérebro às lesões causadas pelo álcool.



Lembre-se dos seus genes

A hereditariedade é difícil de controlar, mas não impossível. Se tem antecedentes familiares de doenças degenerativas, questione o seu médico sobre a melhor forma de as contrariar.

Revolução genética

O estudo internacional publicado o mês passado na revista Nature Genetics envolveu investigadores alemães, americanos, italianos, japoneses, entre outros, que durante cinco anos analisaram o ADN de mais de seis mil pessoas. Os cientistas identificaram mais um gene (SORL1) que poderá aumentar o risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer.

Esperança para doentes de Alzheimer

Cocktail dietético

O cocktail foi "servido" pelos investigadores do MIT no passado Simpósio da International Academy of Nutrition and Aging (edição 2006): ácidos gordos ómega 3 e dois outros compostos normalmente presentes no sangue, uridina e colina, podem atrasar o declínio cognitivo associado à doença de Alzheimer. Todos eles são necessários aos neurónios para a produção de fosfolípidos (componentes das membranas celulares) e de acordo com os investigadores, se os resultados desta suplementação obtidos em ratos se estenderem aos humanos, este tratamento poderá oferecer, não uma cura, mas um tratamento a longo prazo. A boa notícia é que esta receita provocou um aumento das membranas que formam as sinapses celulares (onde as mensagens entre as células são transmitidas) e cujos danos estão associados à demência característica na doença de Alzheimer.



Música neurológica

Faz parte das 10 recomendações do Centro Português de Neurofitness (Instituto da Inteligência) para alcançar a chamada potência cerebral/mental óptima: ouvir música neurológica, ou seja, música instrumental ou coral, cujo ritmo, andamento e harmonia atinja todos os níveis da consciência e do inconsciente a fim de repor o equilíbrio da energia psíquica. O Instituto sugere música New Age e outras como Chariots of Fire, de Vangelis, Symphony in C, de Bizet ou Symphony Nº4, de Mahler e disponibiliza-se para fornecer gratuitamente uma lista completa aos interessados".




(Mais em www.institutodainteligencia.net)


"Revista Performance" N.º 63 - Fevereiro 2007


Imagem:
www.revistapilates.com.br



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