quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Além da Luz e da Sombra


"No coração da sombra existe a luz. E no coração da luz existe a sombra. A experiência do ser é a experiência do círculo que mantém os dois juntos. ...O momento de repouso que fazemos é semelhante à nossa respiração. O inspirar e o expirar é uma não-dualidade. Se só inspiramos, sufocamos, se só expiramos, morremos. O sopro contem a inspiração e a expiração e o que é verdadeiro em nossa vida fisiológica é também verdadeiro em nossa vida psicológica.

Tornar-se adulto é passar da idade dos contrários para a idade do complementar, para um outro modo de olhar as coisas. Se alguém diz algo contrário ao que penso e sou capaz de entender esse contrário como complementar, vou crescer em consciência e em compreensão. Se em vez de rejeitar ou negar alguns elementos de minha vida obscura, sou capaz de acolhê-los, torna-me-ei mais inteiro.

A sombra é o que dá relevo à luz. Quando amamos alguém, um dos sinais de amor verdadeiro é que amamos os seus defeitos. É fácil amar os defeitos de nossos filhos. É difícil amar os defeitos dos adultos ou de nossos cônjuges. Esse amor de que falamos não significa complacência, não é dizer ao outro que me agrada o que ele tem de desagradável pois isso seria mentira e hipocrisia. O amor de que falamos é dar ao outro o direito de ser diferente. E´dar a ele o direito de experimentar sua liberdade. De experimentar em mim mesmo esta capacidade de amar o que é amável e de amar, também, o que não é amável. Dessa maneira passaremos, de uma vida submissa para uma vida escolhida. (p.83)

(...)

...Nossa vida vale pelo olhar que é posto nela. Os olhares de juiz nos enchem de culpa. Há olhares benevolentes, misericordiosos e ao mesmo tempo, justos. Precisamos desses olhares porque todos nós temos necessidade de verdade e de sermos amados. Por vezes, os olhares que encontramos são muito amorosos, muito doces, mas falta a eles a exigência desta verdade. Outras vezes, os olhares que se colocam sobre nós são plenos de verdade e justiça, mas falta a eles a misericórdia e o amor.

... Há um olhar integral do qual temos necessidade a fim de nos vermos tal e qual somos. Porque a verdade sem amor é inquisição e o amor sem verdade é permissividade.

Estas são reflexões gerais e cada um pode entrar em particularidades que lhes são próprias, sentindo se existe em sua vida alguém que pode suportar sua sombra sem julga-la, apesar de não se mostrar complacente com ela. Creio que todos nós temos a necessidade, pelo menos uma vez em nossas vidas, de um tal olhar pousado sobre nós. Nesse momento não teremos mais necessidade de mentir, de nos iludirmos, de usarmos máscaras.

Podemos mostrar nossa verdadeira face, nosso verdadeiro corpo, com seus desejos e seus medos. Podemos mostrar nossa verdadeira inteligência com seus conhecimentos e suas ignorâncias.

Mostrar-se com o coração verdadeiro, capaz de muita ternura e também capaz de dureza e indiferença.

Mostrar-se como não-perfeito, mas aperfeiçoavel.

Sob este olhar nossa vida pode crescer.
Porque o olhar que nos julga e nos aprisiona em uma imagem faz-no ficar parados,
enquanto que o outro olhar nos impulsiona a dar um passo
adiante desta imagem que os outros têm de nós. (p.100)




Título: "Além da Luz e da Sombra -
Sobre o Viver, o Morrer "
Editora: Vozes

Autoria:
Jean Yves-Leloup

Imagem: Internet



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Comecei a Despertar...


"Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que tudo começou a ganhar uma cara que, no fundo, eu já conhecia, mas havia esquecido como era. Comecei a despertar do sono estéril que, com suas mãos feitas de medo e neblina, fez minha alma calar. E foi então que comecei a ouvir o canto de força
e ternura que a vida tem.

Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que ninguém começa a despertar antes do instante em que algo em nós consegue deixar à mostra o truque que o medo faz. Só então a gente começa, devagarinho, para não assustar o medo, a refazer o caminho que nos leva a parir estrelas por dentro e a querer presentear o mundo com o brilho do riso que elas cantam. Só então a gente começa a entender o que é esse sol que mora no coração de todas as coisas. Não importa com que roupa elas se vistam: ele está lá.


]Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a lembrar de onde é o céu e a perceber que o inferno é onde a gente mora quando tudo é sono. Comecei a sair dos meus desertos. E a olhar, ainda que timidamente, para todas as miragens, sem tanto desprezo, entendendo que havia um motivo para que elas estivessem exatamente onde as coloquei. Nenhum livro, nenhum sábio, nada poderia me ensinar o que cada uma me trouxe e o que, com o passar do tempo, continuo aprendendo com elas. Dizem que só é possível entendermos alguns pedaços da vida olhando para eles em retrospectiva. Acho que é verdade.


Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a compreender o respeito e a reverência que a experiência humana merece. A me dar conta de delícias que passaram despercebidas durante um sono inteiro. E a lembrar do que estou fazendo aqui. Ainda que eu não faça. Ainda que os vícios que o sono deixou costumem me atrapalhar. Ainda que, de vez em quando, finja continuar dormindo. Mas não tenho mais tanta pressa. Comecei a aprender a ser mais gentil com o meu passo. Afinal, não há lugar algum para chegar além de mim. Eu sou a viajante e a viagem.


Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a querer brincar, com uma percepção mais nítida do que é o brinquedo, mas também com um olhar mais puro para o que é o prazer. A ouvir o chamado da minha alma e a querer desenhar uma vida que passe por ele. A assumir a intenção de acordar a cada manhã sabendo para o quê estou levantando e comprometida com isso, seja lá o que isso for, porque, definitivamente, cansei de perambular pelos dias sem um compromisso genuíno. E comecei a gritar por liberdade de uma forma que me surpreendeu. Antes eu também gritava, mas o medo sufocava o grito para que eu não me desse conta do quanto estava presa.


Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a desejar menos entender de onde vim e a desejar mais aprender a estar aqui a cada agora. Só sei que descobri que a solidão é estar longe da própria alma. Que ninguém pode nos ferir sem a nossa cumplicidade. Que, sem que a gente perceba, estamos o tempo todo criando o que vivemos. Que o nosso menor gesto toca toda a vida porque nada está separado. Que a fé é uma palavra curta que arrumamos para denominar essa amplidão que é o nosso próprio poder.


Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que não importam todos os rabiscos que já fizemos nem todos os papéis amassados na lixeira, porque todo texto bom de ser lido antes foi rascunho. E, por mais belo que seja, é natural que, ao relê-lo, percebamos uma palavra para ser acrescentada, trocada, excluída. A ausência de uma vírgula. A necessidade de um ponto. Uma interrogação que surge de repente. Viver é refazer o próprio texto muitas, incontáveis, vezes.



Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. O que sei é que não quero aquele sono outra vez."



Autoria: Ana Jácomo
http://anajacomo.blogspot.com/

Texto extraído do blog de: Mariangela Barreto
http://mara-mariangela.blogspot.com

Imagem:
mixnovaera.blogspot.com



Kitaro - The Silk Road

sábado, 19 de novembro de 2011

Do Medo Para O Amor


"Perdemos tanto tempo com coisas sem importância – coisas sem significado fundamental – e, ainda assim, por razões que ninguém parece compreender totalmente, essas coisas dispensáveis permanecem no centro de nossa existência terrena.

Elas não têm conexão com nossas almas de maneira alguma, e, mesmo assim, elas se agarraram ao nosso funcionamento material. Como parasitas espirituais, elas podem devorar nossa força vital e negar nossa alegria. A única maneira de nos livrarmos dos seus efeitos perniciosos é sair de perto... não das coisas que precisam ser feitas, mas dos pensamentos que precisam morrer.

Atravessar a ponte para um mundo melhor começa com atravessar a ponte dentro de nossas mentes, dos padrões mentais viciados de medo e separação, para as percepções iluminadas de unidade e amor. Temos o hábito de pensar de maneira amedrontada, e é preciso disciplina espiritual para mudar isso em um mundo onde o amor é mais suspeito do que o medo.

Para alcançar uma experiência milagrosa de vida, precisamos abraçar uma perspectiva mais espiritual. De outra forma, vamos morrer algum dia sem nunca termos conhecido a verdadeira alegria de viver. Essa alegria emerge da experiência de nosso verdadeiro ser –quando nos libertamos das projeções das outras pessoas sobre nós, quando nos permitimos sonhar nosso mais elevado sonho, quando queremos perdoar a nós mesmos e aos outros, quando queremos lembrar que nascemos com um propósito: amar e ser amados.
Existem duas emoções principais: o amor e o medo.

E o amor é para o medo o que a luz é para a escuridão: na presença de um, o outro desaparece. Conforme mudamos nossas percepções do medo para o amor – algumas vezes em casos onde isso não é tão difícil, e principalmente em casos onde é preciso mestria espiritual para fazê-lo – nos tornamos os trabalhadores de milagres no sentido mais real. Pois quando nossas mentes se rendem ao amor, eles se rendem ao poder superior.

E, a partir disso, todos os milagres se seguem."



Autoria: Marianne Williamson
Livro: "O Dom da Mudança - Um Guia Espiritual para uma Nova Vida"

Imagem:

rayburnsaseleta.blogspot.com




quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Autoconhecimento


"... O Universo inteiro está no interior de cada pessoa;
cada criatura viva tem uma parte de Deus dentro de si.

O único modo de alcançar essa parte divina lá dentro é
pelo caminho íngreme e estreito do autodesenvolvimento.

O objetivo é a perfeição.

A base para isso é conhecer-se a si mesmo ".



Autoria: Pierrakos, Eva e Thesenga, Donovan
"Não temas o Mal: o método Pathwork para a transformação do Eu Inferior"

Imagem:
evolucaohumana.com.br




terça-feira, 15 de novembro de 2011

Aprenda a fazer bonito o seu amor...



"Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor. Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito. Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.

Tenho visto muito amor por aí, Amores mesmo, bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva,mas esbarram na dificuldade de se tornar bonito. Apenas isso: bonitos,belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção. Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.


Aí esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais de repente se percebeu ameaçados apenas e tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram; exigem; rotinizam; descuidam; reclamam; deixam de compreender;necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões. Sim, de razões. Ter razão é o maior perigo no amor.
Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reinvindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão. Nem queira. Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é invocado com justiça mas na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter razão.

Ponha a mão na consciência. Você tem certeza que está fazendo o seu amor bonito?
De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro, a maior beleza possível? Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer.
Quem espera mais do que isso sofre, e sofrendo deixa de amar bonito. Sofrendo, deixa de ser alegre, igual criança.E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.

Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando e olhe alegre.
Recomendam-se: encabulamentos; ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar, e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, “aquela conversa importante que precisamos ter”, arquivar se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida. Para quem ama toda atenção é sempre pouca. Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda atenção possível.Quem ama bonito não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.

Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine, cheia de brinquedos dos nossos sonhos) :não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.

Não tenha mêdo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade;não dar certo; depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração;contar a verdade do tamanho do amor que sente.
Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser. Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo
do Natal infantil. Revivendo os carinhos que instruiu em criança. Sem mêdo de dizer, eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.

Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor,ou bonitar fazendo seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito(a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é e nunca, deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.

Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz."


Autoria: Artur da Távola

Imagem:
http://chocoladesign.com/psicologia-e-relacoes-fisicas-das-cores


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Rédeas do Destino



"Aquilo que existe em mim, e faz parte de mim, pode ser transformado.
Aquilo que é do outro, e faz parte do outro,
só pode ser transformado pelo outro;
e será compreendido e aceito por mim
dentro dos meus limites.


Posso falar ao outro como me sinto em relação ao que ele faz ou diz.
Mas não tenho o poder de controlar o que ele faz ou diz. Não posso afirmar:
"aquilo que você fez ou disse me feriu".
Eu é que me feri com aquilo que o outro fez ou disse.

Sou dono das minhas emoções, sensações e sentimentos. Sou dono das minhas atitudes,
pensamentos e palavras. Não é coerente dizer que fiz algo com alguém
só porque alguém fez outra coisa comigo primeiro.
Agindo assim sou apenas resposta e eco.

É mais valioso optar por agir ao invés de apenas reagir. É mais sensato perceber que sou senhor das minhas ações, e se faço ou fiz algo sou o grande responsável por isso.
Reconheço que as rédeas do meu destino estão em minhas mãos.
E me recuso a segurar as rédeas do destino do outro.

Busco o amor em sua mais bela expressão.
E por isso abro mão de querer ter o controle
sobre a vida do outro. Quero amar com liberdade.
Quero amar com plenitude. Quero amar antes de tudo porque é bom amar."



Autoria: Kau Mascarenhas

Imagem:
healthylifestylesblog.co.uk





sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A Viagem...



"A viagem não acaba nunca.
Só os viajantes acabam.
E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa.

Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
'Não há mais o que ver', saiba que não era assim.

O fim de uma viagem é apenas o começo de outra.
É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já,
ver na primavera o que se vira no verão,
ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía,
ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava.

É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e
para traçar caminhos novos ao lado deles.

É preciso recomeçar a viagem.
Sempre."



Autoria: José Saramago

Imagem: Internet