"O receio de decepcionar as outras pessoas pode tornar-se um empecilho em nossa vida. Este medo faz com que cobremos de nós mesmos uma perfeição impossível de ser alcançada. Porém, o que geralmente não pensamos é que, nossa primeira preocupação deveria ser em não decepcionar a nós mesmos. Quantas vezes acabamos não cumprindo os objetivos que nos havíamos imposto. Nesse caso, passamos por cima de nossos próprios sentimentos e deixamos de lado nossos sonhos, como se eles não tivessem importância.
Abrir mão de si e daquilo que deseja em função do marido, dos filhos, do namorado é uma postura bastante comum para muitas pessoas. Ao fazerem isso, desvalorizam-se e agem como se os sonhos e objetivos que cultivam valessem menos ou pudessem esperar para um dia, quem sabe, serem concretizados. Visto que o futuro é apenas uma hipótese e que somente o momento presente existe, devemos refletir seriamente sobre o hábito de protelar a conquista de nossos anseios mais profundos.
Muitas vezes a vida poderá não nos dar uma segunda chance. Essa não é, em absoluto, uma postura egoísta ou individualista diante da vida. Trata-se isso sim, de não nos anularmos em função seja de quem for, para que um dia não cobremos dos demais a não realização de nossos sonhos e nossa consequente frustração. Manter sempre presente em nossa mente quais as metas que desejamos alcançar ou o que necessitamos para sermos felizes, é uma forma eficaz de não abdicarmos de nossa vida para satisfação dos demais.
É importante encontrar o ponto de equilíbrio entre nossas necessidades e as daqueles com os quais convivemos, sem termos que sempre abrir mão ou fazer concessões quanto a nossas próprias escolhas. Não me lembro em que momento, percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos – para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo. Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência, isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: “Parar para pensar, nem pensar”! Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto. Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar. Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência.
Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo. Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos. Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem. Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada.
Eventualmente re-programada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada. Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas, mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade. Sonhar, porque se desistimos disso, apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for. E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer".
Autoria: Lia Luft
Texto enviado por: Aliene
Imagem: Internet
10 comentários:
Lia, que belo texto.
Nas nossas atitudes, com frequencia, o primeiro pensamento é se estarei magoando alguém. Tão descentrados estamos que não pensamos que, sem estarmos centrado, não há como sentir a vida com harmonia.
LIa, saudade!!
Beijo de luz
Exatamente, Jorge! Saudades também. Beijo. Meu afeto.
Adélia!!
Que belo resumo de como podemos viver de maneira saudável e equilibrada!...
Ótima semana!!
Dani
Adélia querida. Por anos agi conforme fui criada, porque estes eram os padrões da época: abrir mão, anular-se para não agredir, dar prioridade aos objetivos dos outros etc etc. Até que percebi que ninguém pode dar aquilo que não tem. Se eu me anulo, o que vou oferecer? Se abro mão de meus sonhos, o que vou receber? Se tenho medo das pessoas, como elas vão me tratar? Percebi que não é egoísmo. Percebi que primeiro, devemos nos amar, porque só assim, conseguiremos transmitir amor aos outros.
Como sempre, seus textos são de primeira.
Beijos, amiga.
Dani, que bom tê-la por aqui! Ótima semana para você! Beijos.
Querida Maria José, como sempre seus comentários são preciosos. Gosto muito de sua maneira de refletir, complementando os textos aqui publicados. Você enriquece muito o blog! Beijos.
Olá Adélia, acho que nunca te falei, mas seu nome é o mesmo que o da minha irmã mais velha. lindo nome!!!
Deixei uns presentinhos para você no meu blog. grande beijo
Adélia, bom dia!!
Acredito que a vida é reflexo do que somos. Assim, se queremos viver bem é necessa´rio que eu me sinta bem comigo mesmo. Maria José disse uma verdade que ninguém dá o que não tem. Se não me amo, não me valorizo, como vou amar e valorizar alguém. Assim acabamos vivendo de tal forma que não queremos magoar ninguém e vivermos em função dos outros.
Adélia, com carinho
Unknown Man, compartilho do mesmo pensamento. Abraço. Meu afeto.
Kelly, muito interessante saberde outras pessoas com este mesmo nome. Não é tão comum. É de origem européia. No meu caso, vem de minha avó materna (italiana - Veneza). Também o considero muito bonito. Grata por compartilhar comigo e pelos mimos ofertados. Beijos.
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