segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Ser Terapeuta" --- Amigos Evolutivos


- Dancing With All Mandala -



"Uma unidade de encontro, em psicoterapia, além do imago constituída das fantasias mútuas acerca do outro que preexistem ao encontro pessoal, inicia com o primeiro olhar, o ‘olá!’, estende-se no tempo-espaço do estar juntos num contexto interativo, de forma ativa e/ou receptiva, encerrando com o último olhar, o ‘até breve!’ ou ‘adeus!’. É sempre inusitada, quando estamos em boa saúde psíquica, no aqui-e-agora renovador e transtemporal. Aqui o outro jamais é mal-tratado como ‘paciente’ ou ‘cliente’. O encontro não é unilateral e, muitas menos, um negócio; é uma possibilidade palpitante e hesitante, uma delicada probabilidade. Não há seguro; não se pode forçar, economizar ou apressar o encontro. Podemos apenas estar disponíveis, abertos, à escuta. O outro, aqui, é considerado um sujeito na mutualidade, um elo na reciprocidade de uma amizade evolutiva, centrada no processo de cura e de individuação. O pacto é de acompanhamento, numa caminhada em direção a Si Mesmo. É enlaçar a mão do outro, simbolicamente, numa atitude de confiança e respeito que anuncia: Você não está sozinho; vá em direção a você mesmo e eu estarei ao seu lado. Oriente o seu coração para aprender, para conhecer-se e tornar-se o que é, e eu estarei ao seu lado.

Amigo evolutivo, amiga evolutiva, é como denomino as pessoas a quem acompanho, como psicoterapeuta, inspirado no Cosmodrama IV de Pierre Weill, que focaliza o tema das relações evolutivas. Cada unidade de encontro é um artesanato psíquico, uma viagem singular, uma totalidade dialógica única e intransferível. Somos hóspedes na Festa do Encontro, que nos ultrapassa e transmuta.

Necessitei muitos anos nesta jornada para dar-me conta de que cada amigo evolutivo que bate à minha porta é um pedacinho da minha própria alma que necessito escutar, compreender e integrar. Cada pessoa significativa na existência, incluindo-se os inimigos, são pedaços perdidos de nossas almas, à espera de uma escuta e de um reencontro integrador. Assim sendo, os encontros nos devolvem parcelas perdidas de nossa alma comum. Gradativamente, nesta aventura alquímica humana, a alma se amplia. Então, como diz o poeta Pessoa, tudo vale a pena, pois a alma não é pequena.

Nesta abordagem de respeito ao todo humano, o outro jamais é rotulado, amaldiçoado, reduzido a um rótulo patológico. A pessoa é mais vasta que os seus problemas e sintomas. Ninguém é doente; podemos estar doentes. A doença é passagem; é devir. Etmologicamente, a palavra inferno significa estar fechado. Como afirma o rabino Niton Bonder, o oposto da inveja, esta vivência infernal, é farguinen, um verbo da língua ídiche, que pode ser traduzido como abrir espaço. Quando abrimos espaço, o outro pode ser quem é, com seu brilho e a sua sombra. Um catecismo rígido, seja religioso ou psiquiátrico, com interpretações estreitas e reducionistas, pode ser um desastroso fator patogênico.

Enclausurar a pessoa nos limites de sua patologia, na estreiteza interpretativa de um rótulo, pode ser iatrogênico, pois a informação tem uma função estruturante. As informações recebidas na primeira infância, por exemplo, são decisivas na estruturação da personalidade, bem o sabemos. O que falamos para o outro tem força de modelagem, que pode aprisionar ou libertar, amaldiçoar ou abençoar"....

(...)

A psique irradia e contagia. Assim como nos contagiamos com o vírus de uma doença infecciosa. Assim como nos contagiamos com os vírus de uma doença infecciosa, igualmente estamos expostos ao contágio invisível dos ‘vírus psíquicos’, mentais e emocionais, no âmbito de nossa ecologia interior. Um terapeuta que atua conscientemente como analista e sintetista, precisa submeter-se a uma rigorosa e disciplinada higiene global, do corpo-psique-pneuma. Precisa aprender a nutrir-se por inteiro, para ser fonte de nutrição da inteireza dos que o procuram. Considero a meditação um nutriente imprescindível, juntamente com os demais cuidados já mencionados, prescritos pelos Terapeutas de Alexandria.



Autoria: Roberto Crema
Livro: Saúde e Plenitude
http://mulherzen.spaces.live.com/blog/cns!718B226FA43E41DC!277.entry?sa=922315229

Imagem:
www.janwestart.com/Mandalas.aspx


Obs.:

Os grifos, no texto, são meus.


8 comentários:

Anônimo disse...

Seres especiais que estão ao lado, mostrando possibilidades da nossa caminhada, que coisa boa de se ler.Lindo texto Adélia!
mil beijos
T

ONG ALERTA disse...

Precisamos aprender a conviver conosco para depois poder ajudar a quem precisa, paz.
Sozinho nunca somos basta usar o coração.

Norma Villares disse...

Ser terapeuta deve ser um ser que nutre profundo respeito pela Vida, pelo outro humano e infra humano. E adoração pelo trans humano.
Difícil mas possível.
Beijinhos

Dani Leão disse...

Olá! :)

Linda profissão!...Principalmente para aqueles que sabem compreendê-la, amá-la e exercê-la com tanta paixão e inteireza como você!!

Muitos beijos!!

Dani Leão

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Dani Querida, realmente é uma lindíssima profissão. É uma realidade o Amor que tenho pelo meu atuar como Psicóloga. Agradeço muito suas palavras, pois sinto o quanto fluiram de sua alma. É muito bonito ter amigos evolutivos na minha jornada desta Vida, assim como você! Beijos.

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Norminha, concordo plenamente contigo! Não se torna tão difícil, quando realizado com Amor. Flui como água da fonte, que jorra incessantemente. Lindas palavras as suas! Beijos.

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

ONG ALERTA, usando-se além do intelecto, o coração, o trabalho é exercido de maneira integrada. Abraço.

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Tereza Querida e tudo isto é uma dádiva divina! Beijos.