O etnólogo e antropólogo estruturalista belga Claude Lévi-Strauss morreu na noite de sábado para domingo (1º) aos 100 anos, de acordo com um porta-voz da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais de Paris, na França. As informações são do jornal francês "Le Monde".
Nascido em Bruxelas, na Bélgica, Lévi-Strauss foi um dos grandes pensadores do século 20. Ele, que completaria 101 anos em 28 de novembro, tornou-se conhecido na França, onde seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da antropologia. Filho de um artista e membro de uma família judia francesa intelectual, estudou na Universidade de Paris.
De início, cursou leis e filosofia, mas descobriu na etnologia sua verdadeira paixão. No Brasil, lecionou sociologia na recém-fundada Universidade de São Paulo, de 1935 a 1939, e fez várias expedições ao Brasil central. É o registro dessas viagens, publicado no livro "Tristes Trópicos" (1955) que lhe trará a fama. Nessa obra ele conta como sua vocação de antropólogo nasceu durante as viagens ao interior do Brasil.
Exilado nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), foi professor nesse país nos anos 1950. Na França, continuou sua carreira acadêmica, fazendo parte do círculo intelectual de Jean Paul Sartre (1905-1980), e assumiu, em 1959, o departamento de Antropologia Social no College de France, onde ficou até se aposentar, em 1982.
O estudioso jamais aceitou a visão histórica da civilização ocidental como privilegiada e única. Sempre enfatizou que a mente selvagem é igual à civilizada. Sua crença de que as características humanas são as mesmas em toda parte surgiu nas incontáveis viagens que fez ao Brasil e nas visitas a tribos de indígenas das Américas do Sul e do Norte.
O antropólogo passou mais da metade de sua vida estudando o comportamento dos índios americanos. O método usado por ele para estudar a organização social dessas tribos chama-se estruturalismo. "Estruturalismo", diz Lévi-Strauss, "é a procura por harmonias inovadoras".
Suas pesquisas, iniciadas a partir de premissas linguísticas, deram à ciência contemporânea a teoria de como a mente humana trabalha. O indivíduo passa do estado natural ao cultural enquanto usa a linguagem, aprende a cozinhar, produz objetos etc. Nessa passagem, o homem obedece a leis que ele não criou: elas pertencem a um mecanismo do cérebro. Escreveu, em "O Pensamento Selvagem", que a língua é uma razão que tem suas razões - e estas são desconhecidas pelo ser humano.
Lévi-Strauss não via o ser humano como um habitante privilegiado do universo, mas como uma espécie passageira que deixará apenas alguns traços de sua existência quando estiver extinta.
Membro da Academia de Ciências Francesa (1973), integrou também muitas academias científicas, em especial européias e norte-americanas. Também é doutor honoris causa das universidades de Bruxelas, Oxford, Chicago, Stirling, Upsala, Montréal, México, Québec, Zaïre, Visva Bharati, Yale, Harvard, Johns Hopkins e Columbia, entre outras.
Aos 97 anos, em 2005, recebeu o 17o Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha. Declarou na ocasião: "Fico emocionado porque estou na idade em que não se recebem nem se dão prêmios, pois sou muito velho para fazer parte de um corpo de jurados. Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente".
Fonte:
Uol Notícias - São Paulo
8 comentários:
Ester, obrigada por esse texto. Acho que ele já virou uma estrela, não?
bj
Tereza
Tereza, sim, uma estrela luzente guiando muitos numa concepção profunda do ser. Aprendi muito com ele! Bj.
Adélia querida. Estava sentindo sua falta. Hoje, de qualquer forma, viria ao seu espaço. Tenho viajado muito a serviço e sobra-me pouco tempo para o blog, que amo. Adoro estar com você e com outros, que já formei amizade. Esta homenagem que você fez está realmente linda. Você conseguiu em poucas palavras, colocar um pouco do que foi este grande homem e suas idéias principais. Parabéns, mais uma vez, por sua capacidade de escrever e nos trazer o que vale a pena ler e conhecer. Beijos e obrigada por seu comentário enriquecedor no meu blog.
Adélia Ester, obrigada pela visita.
Que pena que ele se foi, deixou uma obra de vastidão.
Paz Profunda!
Abraços
Querida amiga, Maria José, que bom tê-la por aqui novamente! Faz muita falta; sinto saudades. Seres como ele, valem à pena, pela grande contribuição à Vida! Grata por seu comentário! Beijos.
Norminha, realmente uma grande obra, como legado à humanidade! Paz Profunda! Beijos.
Passei aqui para dar uma espiadinha e me alimentar de boa leitura. Deixo-lhe um grande beijo e um ótimo final de semana.
Você irradia simpatia naturalmente, Maria José. Fico feliz com suas passadinhas por aqui. Um maravilhoso fim de semana! Beijos.
Postar um comentário