sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Celebrar Verdadeiramente O Valor



Celebrando o Imenso Valor, da Beleza impressa em meu Ser,
pela Presença Marcante de:

Meu Pai, meus Familiares e
todas Pessoas muito Queridas,
que fazem parte da dimensão espiritual
.


Meu Profundo Amor e Gratidão.


Adelia Ester M. Zimeo



"A perda é central à nossa condição. Se vivermos muito tempo, perdemos todos de quem gostamos. Se não vivermos muito tempo, eles nos perderão. Com afirma Rilke: 'Vivemos, portanto, eternamente dizendo adeus'. O 'adeus' é para as pessoas, para os estados de existência, para o momento da separação. (...) A palavra alemã para a perda Verlust, sugere 'indo através do desejo' para a experiência, depois a ausência do seu objeto. Além do desejo sempre está a perda.


Há dois mil e quinhentos anos Gautama tornou-se o Buda ('aquele que vê através'). O que ele viu é que a vida é a permanente experiência do sofrimento. Esse sofrimento é basicamente ocasionado pelo desejo de controle do ego -- de controlar o ambiente, de controlar os outros, de controlar até mesmo a mortalidade. Como somos incapazes de controlar a vida com êxito, nosso sofrimento é diretamente proporcional às nossas perdas. O único caminho para atravessarmos e irmos além desse sofrimento, de acordo com Buda, é a renúncia do desejo de controlar, é entregar-se, a companhar a sabedoria implícita na qualidade transitória da natureza. Essa liberação é a cura adequada da neurose, porque então não ficamos separados da natureza, até de nós mesmos, que somos parte da natureza.


Essa renúncia não nos torna escravos da perda, e sim partipantes do ato da entrega. É somente nos entregando que podemos atrair a paz e a serenidade. No entanto, como todos sabemos, o primeiro oficial do ego é o capitão Segurança, competentemente apoiado pelo Sargento Controle. Quem entre nós 'viu através' como o Buda e extinguiu o desejo, transcendeu o ego e afirmou de coração a idéia 'seja feita a Tua vontade, e não a minha?'. Tennyson disse que é melhor ter amado e perdido do que simplesmente não ter amado. (...)


Apesar do sábio conselho do Buda, parece fazer parte da nossa natureza ansiar pelo apego, por um lar. Em algum lugar, na colisão entre o coração, que anseia pela permanência e ligação, e o cérebro, que reconhece a separação e a perda, existe um lugar para que encontremos nossa psicologia pessoal. Nenhum de nós provavelmente irá alcançar o budato, mas tampouco não precisamos ser eternas vítimas.


Fundamental para a expansão da consciência é o reconhecimento de que a constância da vida é sua impermanência. Com efeito, a transitoriedade é a expressão da própria força vital. (...)
A palavra que temos para o imutável é morte. O abraço da vida, portanto, requer o abraço da energia que se alimente de si mesma e é consumida.
Deixar de mudar é contrário à força vital, é a morte.

(...)

A experiência da perda só pode ser aguda quando algo de valor esteve em nossa vida. Se não existe a experiência da perda, não houve nada de valor. Para sofrer a dor, nos é exigido que reconheçamos o valor que nos foi conferido.

(...)

Quando perdemos um ente querido, precisamos chorar essa perda e, no entanto, conscientemente valorizar o que internalizamos dessa pessoa. (...) A energia investida naquele papel está agora disponível para uma direção diferente. Assim, honramos mais aqueles que perdemos tornando consciente a contribuição deles para nossa vida, vivendo deliberadamente com esse valor e incorporando esse valor no empreendimento contínuo da vida. Essa é a conversão adequada da perda inevitável nessa vida evanescente. Essa conversão não é uma negação, e sim uma transformação. Nada que é internalizado jamais é perdido.
Mesmo na perda, então, algo elevado permanece.

(...)

Quando Emma, a mulher de Jung, morreu ele sofreu de uma depressão reativa. Durante meses, ele ficou consternado e desorientado. Então uma noite ele sonhou que havia entrado em um teatro em que estava sozinho. Ele desceu para a primeira fila e esperou. O fosso da orquestra assomava como um abismo diante dele. Quandoa cortina se abriu, ele viu Emma ali, vestida de branco, sorrindo para ele, e ele soube que o silêncio havia sido rompido. Eles estavam juntos, estivessesm eles juntos ou separados.


Ao planejar meu primeiro retorno ao Jung Institute em Zurique, depois de exercer minha profissão durante três anos nos Estados Unidos, eu estava ansioso para rever muitos dos meus antigos amigos, especialmente o Dr. Adolph Ammann, que fora meu analista supervisor. Pouco antes de voltar soube que ele havia morrido, e chorei a dor e a desconexão. Depois às tres horas da manhã do dia 4 de novembro de 1985, eu 'acordei' e vi o Dr. Ammann no meu quarto. Ele estava sorrindo, curvou-se à maneira educada habitual, e disse: 'É bom ver você de novo'. Três coisas me passaram pela cabeça: 'isso não é um sonho -- ele está realmente aqui'; depois, 'Certamente tem de ser um sonho'; e depois 'Isso é como o sonho que Jung teve com Emma. Eu não o perdi, pois ele ainda está qui comigo'. Assim, a experiência terminou com uma profunda sensação de paz e aceitação. Eu não havia perdido meu amigo-mentor porque ele ainda estava dentro de mim, mesmo enquanto escrevo estas palavras.


Talvez nada que um dia foi real, que um dia que já foi importante, que jamais teve gravidade, seja realmente perdido. Somente no abandono da fantasia do controle podemos realmente chorar a perda, verdadeiramente celebrar o valor'."




Autoria: (*) James Hollis
Livro: Os Pantanais da Alma


Imagem: Carol's hands
Susan Kullmann and Marevelle Thompson (2005)




(*) James Hollis, PH.D., é pós-graduado pelo Jung Institute em Zurique.
Ele exerce a profissõa na Filadelfia e em Linwood, N.J., onde mora.




4 comentários:

Jorge disse...

Lia, doce Anjo!


Tem um selo prá você no meu blog.
Quando puder, passa lá, tá bom?

Um beijo

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Adélia. O texto de hoje, me trouxe calma e serenidade. Veio complementar o que aprendi sobre o sentido da morte.
Gosto muito do que li em "Vida" do
Índio Tamoio Prado, que diz o seguinte:
“Se “vida” é ter a gente a alma retida no cárcere do corpo, de tal sorte, que ela ao seu jugo torne-se vencida, então ... a “vida” não é vida, é “morte”.
Se “morte” é o eximir-se a alma do forte grilhão da carne, alando-se em seguida para o alto céu, num rápido transporte, então ... a “morte” não é morte, é “vida”.
Se “vida” é ter a alma a escravidão que humilha, treva que envolve a estrada que ela trilha ...
Se “morte” é a mutação de sua sorte ... é a sua volta livre à luz perdida ...
Por que esse apego que se tem à vida?
Por que esse medo que se tem da morte?”
Beijos e ótimo final de semana.

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Jorge Querido, grata pelo carinho! Beijo.

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Maria José, grata pela linda complementação que você trouxe ao post de hoje! Beijos e um lindo domingo!