domingo, 29 de maio de 2011

Comportamento/Misógino: Relações Amorosas Conturbadas



Por Sônia Nemi

"Em seu livro Homens que odeiam suas mulheres & mulheres que os amam, cujo subtítulo é quando amar é sofrer e você não sabe porquê, Susan Forward e Joan Torres, escolhem usar, para descrever tal tipo de homem, a palavra misógino. Misógino é uma palavra grega utilizada como referência a quem odeia mulheres: miso (odiar) e gyne (mulher).

Ao primeiro contato com um misógino, em geral, ele é considerado um gentleman. Ele é o homem que conquista a mulher de uma forma deliciosamente amorosa e sedutora e passa a ser por ela descrito através de uma farta lista de superlativos. Ele é tão intensamente maravilhoso que fica impossível para a mulher atribuir a ele qualquer responsabilidade dos problemas da relação quando estes começam a acontecer.O contrato relacional velado se define no início do relacionamento quando o homem vai, aos poucos, verificando até onde pode ir com o seu estilo controlador e manipulador. À medida que a mulher evita confrontá-lo tentando ser boa para preservar a relação, ela está estabelecendo um tópico contratual que configura o contexto para a atuação do misógino, ao tempo em que ela vai enfraquecendo. Como diz Susan Foward: 'ela contrata amor e ele controle'.

Esse controle se evidencia nas armas abusivas em que as palavras se tornam, através das quais as críticas e ataques são feitos, até alcançar o controle da sexualidade e o controle financeiro. Mesmo que a mulher tente agradá-lo, tudo que ela faz está errado e ele a convence de que ela é culpada.

Quando as explosões repentinas do homem começam a acontecer, mais elas são sentidas como ameaças veladas pela mulher que fica perplexa e cada vez confusa com o que dá errado. Ela passa a 'pisar em ovos', medindo as palavras, para falar com ele. A forma sutil como ele a desqualifica impede que ela possa perceber que é isso que mina a sua auto estima. Ela se torna irreconhecível, principalmente se antes era uma mulher independente financeira e emocionalmente, uma vez que definha.

Os argumentos utilizados pelo homem parecem tão lógicos e tão cheios de interesse pelo bem da relação que, a mulher vai, cada vez mais afundando no seu pântano emocional. Tudo que ele quer é que ela demonstre seu amor por ele, sendo compreensiva e conhecendo-o tão bem que seja capaz de atender suas necessidades, sem nunca se aborrecer com ele. Com o tempo, a relação parece uma gangorra onde de um lado ele estoura e do outro se arrepende, pede desculpas e se torna o homem maravilhoso do início do relacionamento.

Apesar da descrição devastadora do misógino, ele não tem consciência do seu funcionamento e sequer se dá conta da dor do outro. A construção de tal dinâmica pessoal pode ser entendida a partir da sua história, na família de origem, quando vivenciou sofrimento psicológico o qual não poderia evitar.

O misógino é filho de uma relação conturbada onde aprendeu, observando seus pais, que a única maneira de controlar a mulher é oprimindo-a. Ao lado disso, ele pode ter sentido que a sua mãe não poderia existir sem ele, já que seu pai a maltratava; ou ainda, ele pode ter tido uma mãe que o oprimiu ou rejeitou, ao lado de um pai passivo.

Qualquer que tenha sido a sua história, o misógino está na fase adulta 'atuando' a sua dor de 'criança' ferida, buscando desesperadamente ser amado ainda que de uma forma equivocada.
No caso da mulher que escolhe formar uma relação com um misógino é possível que ela tenha sido infantilizada pela sua família de origem e busque no seu parceiro o apoio, suporte e amor que não recebeu do seu pai, ou talvez ela teve uma mãe que desqualificava o pai; ela pode também ter vindo de uma família tão caótica que desde cedo ela aprendeu que toda relação é problemática e que ela como mulher não tem chance.

Ainda que o misógino seja visto como algoz e a mulher como vitima, esta também contribui para que tal padrão relacional se implemente e perdure. A mulher instiga o misógino a atuar na medida que ela não estabelece limites claros, diferenciando-se dele e ocupando seu próprio espaço na vida e na relação.

O homem e a mulher nessa relação estão interagindo dentro de seus próprios papéis; da mesma forma que um círculo não tem começo nem fim, a relação se desenvolve sem que se possa indicar um culpado. Um “precisa” do outro para continuar com o padrão, mas para sair dele um dos dois precisa funcionar de uma forma nova. Uma mulher que sofre numa relação como essa pode: (1) manter-se submissa para preservar seu homem, (2) separar-se, ou (3) construir uma nova relação com o mesmo homem.

Aquelas que escolhem a terceira opção terão que resgatar sua auto estima, assumir o seu lugar no mundo e na relação, estabelecer limites claros e ser firme ao se posicionar diante do seu parceiro. Ela provavelmente precisará de suporte terapêutico até que se tenha fortalecido. É possível que, à medida que ela conquiste seu objetivo, o seu misógino desista do lugar de algoz para ficar ao seu lado ou desista da relação. Se ela sente que o ama, precisará amar a si mesma também para ter coragem de correr o risco de 'perdê-lo'.

De qualquer forma dificilmente um misógino busca terapia e, se assim o faz, tão logo se fortalece interrompe o seu processo. Parece que o sofrimento do seu mundo interno é tamanho que ele não suporta ter que contactá-lo através da análise da sua dinâmica e efeito do seu comportamento no outro; para tanto ele teria que admitir que é co-construtor das dificuldades da sua relação e que é, na verdade, um homem sedento de amor."



Fonte:
http://portalmulher.net

Imagem: Livro (Internet)

4 comentários:

Norma Villares disse...

Amiga, que texto maravilhoso, realmente é assim que acontece, eu faço parte de grupos de estudos para amparar mulheres e vou indicar esse livro. Muito bom. Grata por distribuir tanto conhecimento. Beijinhos

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Norminha, este livro auxilia bastante a esclarecer quanto às características dos envolvidos em um relacionamento amoroso conflituoso. Além de mostrar as raízes em questão. Vai complementar o seu trabalho. Beijos.

Psico?lógico! disse...

Olá Adélia!! quanto tempo!!!!!!!

ótimo este post. também publiquei um sobre misogenia há algum tempo e tenho recebido muitos e-mails de mulheres a procura de ajuda. Desta forma acredito que poderemos abrir os olhos de algumas pessoas e ajudar não acha? dá uma olhadinho no post lá no blog. (http://psicologico-al.blogspot.com/2010/01/ele-te-ama-e-depois-te-maltrata-ele.html)

Enorme abraço!

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Olá! Que bom reencontrá-la! O esclarecimento ajuda muito na prevenção e no tratamento de quem passa por tais situações. Visitarei seu blog para ler seu post. Beijos.