Relações que sequestram são aquelas em que um eu tenta sufocar outro tu, reduzindo-o a mero instrumento de sua afirmação. O outro não é considerado em sua alteridade, mas é visto como extensão das necessidades de quem o enxerga. A esse processo, Martin Buber chamou de relações objetais. O outro é visto como um isso e não como um tu. Não há epifania da sacralidade do outro. Feito um objeto, o outro perde o direito de ser ele mesmo, desprende-se de sua identidade, de sua condição real e passa a ser "coisa" na mão de quem o desconsidera.
Alguém, quando é colocado na condição de algo, vive a negação de sua dignidade; desumaniza-se, porque deixa de ser considerado como pessoa, e passa a viver a condição de objeto. Deixa de ser "organismo" para se transformar em "mecanismo". No sequestro da subjetividade o sequestrador passa a ser o proprietário. Ele definirá o ritmo da relação, e o sequestrado, vivendo a condição de vítima, será incapaz de reagir de forma contrária aos desejos de seu proprietário.
O sequestrado permite essa relação. O medo de ser deixado, abandonado, o encoraja a sofrer todos esses malefícios. Nesse caso vale aquela máxima popular: "Ruim com ele, pior sem ele!" É lamentável, mas esse discurso tão cheio de conformismo é muito comum entre nós. Ele evidencia o quanto as pessoas estão indispostas para um rompimento com as relações de sequestro, justamente porque a quebra do cativeiro gerará um sofrimento nos sequestrados. No caso dos dependentes químicos, o sofrimento da abstinência e nos dependentes afetivos, o sofrimento ao romper os vínculos.
Por isso a dificuldade em tomar iniciativas. O cativeiro, por pior que seja, acabou por se tornar um lugar seguro. O sequestrado está esquecido da vida livre; já não sabe como é ser gente fora das prisões. Esqueceu que é rei e vive como se fosse escravo. O tempo no cativeiro o fez acostumar-se com a comida qualquer, com o amor qualquer, com o cuidado qualquer. Quem sobrevive de qualquer maneira facilmente também se considera qualquer pessoa; inclui-se no contexto da multidão como se fosse apenas mais um.
É a cultura do "qualquer jeito" que tem anestesiado tanto as pessoas para as transformações necessárias. A mediocridade existencial tem sido a opção mais fácil. Esse é o resultado psicológico desta modalidade de sequestro. O que temos é uma vítima acostumada com a violência que sofre. A vítima torna-se a principal responsável pela condição mantida. Violência sutil, velada, que não tem as mesmas características do ato violento declarado. É sequestro de subjetividade quando alguém, no exercício de imaginar, projeta o outro como personagem, e com ele estabelece uma relação baseada na falsidade que despersonaliza e aprisiona. Jura a promessa de um amor eterno que se desdobra em cruel forma de prisão.
Texto e Imagem enviados por: Aliene Santos
Autoria: Pe. Fábio de MeloTrechos extraídos do Livro: "QUEM ME ROUBOU DE MIM?"
Texto e Imagem enviados por: Aliene Santos
Autoria: Pe. Fábio de MeloTrechos extraídos do Livro: "QUEM ME ROUBOU DE MIM?"
Nenhum comentário:
Postar um comentário