quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Amor Para As Diversas Tradições


Assim como são diferentes as cores de um arco-íris, a primeira cor que nos revela o budismo é que o amor pode ser ua compaixão. Um estado de consciência não fixado sobre um objeto particular. Sob todas as circunstâncias o importante é permanecer capaz de amar.

A arte de amar no budismo será um trabalho a realizar em nossos pensamentos, em nossas projeções e em nossas ilusões. Será necessário deixar emergir este amor feito de calma, um amor não apenas de pulsão e de carência mas de uma plenitude de paz. Desenvolver o que poderíamos chamar um a priori de benvolência. Reencontrar nossa bondade natural. “Desfranzir-nos”, transformar as garras de nossas mãos em carícias.

Os chineses poderiam nos ajudar a desenvolver o sentido da harmonia, passando do contrário ao complementar. Em vez de ver o outro, o que ele pensa ou diz, como qualquer coisa oposta a nós, vê-lo como complementar, como um ponto de vista que vem enriquecer nosso ponto de vista. Isso, em verdade, requer maturidade, não ter medo da diferença. A diferença enriquece a minha visão de mundo. Em um campo não há flores apenas de uma só cor e as diferentes cores nos permitem fazer um belo ramalhete. Harmonizar sua cor, seu pensamento, seu ponto de vista, com outra cor, com outro pensamento, com outro ponto de vista, é também amor.

A Índia poderia nos ensinar a desenvolver em nós o sentido do sagrado que existe em cada coisa. Amar a sabedoria do feminino na mulher, amar a sabedoria do masculino no homem, amar a presença do Criador na criatura, amar o oceano em todas as ondas. Esta atitude poderia dar profundidade a nossos atos de amor. Quando tocar alguém, não tocar apenas um corpo, mas tocar um ser humano, um sopro cósmico, porque a Grande Vida está presente neste rosto que me olha. Quero, neste caso, reconhecer a persença divina no outro. Como no budismo, a arte de amar na Ìndia é a arte da meditação, a arte da atenção e da visão profunda.

A Grécia pode também nos ensinar a amar. Aceitar que só conhecerei a mim mesmo através do outro. Meu modo de amar e de reagir ao outro me revela a mim mesmo. O outro é, também, meu espelho. Não há verdadeiro conhecimento de si mesmo que não passe pelo outro. Assim, antes de querer se doar é preciso ter-se encontrado. Antes de ir além do Ego é preciso ter um.

Quando digo que amo alguém o que é que eu amo, oque é que ama em mim? Freqüentemenete são nossos inconscientes que se encontram. Muitas vezes ocorre o casamento de dois inconscientes. Para tornar-se sujeito há um longo caminho a percorrer. Como diz o poeta Rilke, o amor é constituído por “duas humanidades que sse inclinam uma diante da outra”.

A arte de amar no judaísmo nos traz a consciência de que nossos amores humanos são uma participação no ato criador de Deus. Lembra-nos que o outro não é apenas um meio de conhecimento de nós mesmos. O outro é a revelação de uma transcendência. A tradição judaica adiciona o respeito ao amor. Nem idolatria nem desprezo, porque temos sempre tendência a um dos dois ou amobs. Mas um caminho do meio, pois o respeito é uma dimensão muito nobre do amor e é o que dá nascimento à Ética.

Para Kant, a Ética consciste em nunca fazer do outro um meio. O outro não deve ser, jamais, um meio que eu possa utilizar para chegar a um fim. Ele é um fim em si mesmo, e’um sujeito, não é um objeto. Portanto, nesta tradição, a arte de amar é, realmente, um sentido do outro enquanto sujeito. É também uma lembrança de que a sociedade que podemos construir não será uma bela máquina cujas molas estarão sempre perfeitamente lubrificadas, mas uma assembléia de pessoas que, sem cessar, estarão aprendendo a amar.

O cristianismo nos convida a esta liberdade que se encontra na paralavra Ágape, o amor na superabundância, o amor de grauidade. Mas antes de conhecer este tipo de amor, existirão em nossos amores necesidades, solicitações, desejos, sempre com uma orientação em direção a uma maior autonomia e uma maior liberdade. Uma liberdade de amar o outro em sua diferença, de amar o divino no outro, de amar o outro como a mim emsmo, reconhecendo-me nele.

O amor do Si, o amor a Si e o amor do outro não estão separados. As diferentes tradições insistem mais em um ponto que em outro e cabe-nos fazer a síntese, alargar nossa paleta de cores do amor. Não podemos negigenciar nenhuma cor, nem o instinto nem o êxtase, nem o céu nem a terra. Unir não quer dizer misturar. Distinguir não quer dizer separar.

Cristo diz: “Você amará!” Esta palavra não é uma ordem, não é um mandamento no sentido habitual do termo, é uma espernaça. É um devir. Hoje você não ama, você ama mal ou ama apenas uma parte de si mesmo. Tavlez um dia e dia após dia você amará com todo o seu coração, com todo seu espírito e com todas as suas forças.

Todas as culturas, todas estas tradições, enriquecem nossa visão do amor. Amar é tudo isso junto. Sem cessar temos que alargar nossa paleta de cores a fim de chegar ao conhecimento do arco-íris, em um longo caminho. E podemos desejar uns aos outros uma boa viagem, lembrando-nos que, se devemos morrer um dia, não morreremos sem ter vivido e, se quisermos, não morreremos sem ter amado.




Autoria: Jean-Yves Leloup
O Cântico dos Cânticos

Uma Arte de Amar para os Nossos tempos pag.:29 a 31

Imagem: Eros e Psique
virtualiaomanifesto.blogspot.com



4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Adélia, desculpas hoje passei para falar contigo, fiz uma seleção de mestrado e apostei muito nisso, infelizmente não passei, estou triste...
Sabe quero tanto recomeçar... Mas tento e não estou conseguindo! Não ria com o que vou te dizer, eu não te conheço pessoalmente, mas ao olhar pro seu rosto fico em paz, pois ele transmite muita tranquilidade, entende? Sério!
Hoje vi um concurso para professor substituto e quero fazer, é uma vaga, vou fazer!
Adélia quero voltar a viver... E o Trabalho é pra mim meu recomeço.
Hoje faz 1 ano da minha separação e eu ainda estou assim, parada, quero tanto meu emprego...
Obrigada sempre pela atenção!
Fique com Deus.
Walquíria.

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Walquíria, você demonstra anseios de recomeçar sua vida, através do trabalho, também. isto é muito positivo. É natural que esteja ansiosa para que isto possa acontecer. Ao mesmo tempo seria interessante tentar fazer sua parte e aguardar os resultados. Nem sempre conseguimos no momento que desejamos. Quando é assim, o melhor é tentar tranquilizar e saber que a Vida tem propósitos, muitas vezes, desconhecidos por nós. Continue se esforçando, mas tente baixar um pouco sua ansiedade, se preparando e entregando, mentalizando para que ocorra o melhor neste momento para você. Afinal, 1 ano é ainda um tempo (cronologicamente) recente. Tranquilizando-se, você conseguirá ir sentido os sinais que a Vida lhe oferece para saber por onde prosseguir. Nada acontece sem tentativas de acerto e desacertos. Afrouxe um pouco mais e confie apenas. Quanto ao seu comentário de se inspirar em minha imagem, respeito muito e fico satisfeita em perceber sua tamanha sensibilidade (me sentiu por foto). Muitas pessoas, de uma maneira ou de outra, que têm contato comigo relatam o mesmo:que transmito Paz, serenidade, calma, etc.
Tudo tem seu momento certo de acontecer ou de não acontecer. Nada é por acaso! Tenha gratidão por sua Vida e por tudo que tem transcorrido!
Boa sorte!
Paz Profunda!
Beijo.

Tereza Kawall disse...

As palavras de um mestre são inconfundíveis, que beleza, meu carinho
Tereza

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Tereza Querida, que possamos ter uma bela jornada nos territórios do Amor! Beijo. Meu afeto.